Por Evan G. Greenberg
21 de abril de 2020
Artigo original publicado pelo The Wall Street Journal (em inglês)
O Coronavírus desferiu o golpe mais grave na economia americana desde a Grande Depressão. A retração do crescimento e o pico do desemprego aumentarão a difícil situação humana, à medida que a crise da saúde se desenrola. Quanto tempo o dano vai durar ou quão pior será, não está claro para ninguém. Mas, o que está claro é que permitir a proliferação de ações judiciais ou a tentativa de atribuir o dano às seguradoras, como a minha companhia, não irá ajudar os americanos, nem ajudará a economia.
Primeiro, é importante citar um pouco de história. Muitos especialistas, incluindo economistas e líderes do Federal Reserve (Fed), o Banco Central Americano, acreditam que a grande lição dos anos 30 foi o fracasso da política monetária. Isso explica as medidas não convencionais que o presidente do Fed, Ben Bernanke, tomou após a crise financeira de 2008, que agora foram expandidas pelo Fed de Jerome Powell na pandemia. De fato, houve um fracasso coletivo ainda maior: desvalorizações competitivas e protecionismo, que minaram a confiança e aceleraram o declínio econômico.
Esse é um contexto essencial para o debate nos Estados Unidos sobre a responsabilidade decorrente da pandemia. O risco é o retorno à política de "empobrecer o seu próximo". A versão moderna será uma onda de processos contra diretores e conselhos de todo tipo de organização. Depois, há esforços para prejudicar um setor (como o de seguros) para ajudar outro (o de Pequenas Empresas). Nesse cenário, não há vencedores.
Ações judiciais sem controle por qualquer dano relacionado ao Coronavírus aumentariam significativamente a incerteza – tanto para pequenas empresas, como organizações sem fins lucrativos, corporações, universidades, sistemas de transporte, shopping centers e casas de repouso, por exemplo. Todos estão tentando proteger sua gente, manter a prestação de serviços e preservar suas organizações. Ao lidar com necessidades urgentes, informações precárias e recursos frequentemente reduzidos, todos tomam as melhores decisões que podem. E agora todos esses negócios enfrentam a ameaça de litígios, não apenas pelas decisões atuais, mas também por aquelas apresentadas antes que a ameaça do coronavírus ficasse evidente. Isso é tremendamente contraproducente e custará caro.
Enquanto isso, há um esforço para forçar o setor de seguros a pagar pelas perdas relacionadas ao vírus que não haviam sido seguradas. Algumas empresas e certos legisladores pensam que a cobertura de interrupção de negócios deve pagar pelos danos causados pela pandemia, mesmo que esses riscos não sejam cobertos por essas apólices e que nenhum prêmio tenha sido cobrado por essa exposição. Isso violaria a integridade dos contratos estabelecidos no artigo I da Constituição americana. Se implementado, isso levaria à falência o setor de seguros para sustentar outras partes da economia.
O seguro funciona distribuindo o risco entre muitas pessoas ou empresas. A suposição fundamental é que apenas alguns terão um incêndio ou doença em um determinado momento. O seguro também cobre catástrofes naturais como furacões, quando muitos reclamam sinistros ao mesmo tempo. No entanto, esses eventos são limitados tanto em termos geográficos quanto em duração, permitindo o mesmo agrupamento do risco.
As pandemias são diferentes. O Coronavírus começou na China, mas não tem nem limites geográficos nem de tempo. O potencial de perda em termos práticos é infinito, mas as companhias de seguros têm balanços finitos. Somente o governo tem recursos financeiros para lidar com essa pandemia, fato reconhecido por ações extraordinárias de empréstimos do Fed e pelo pacote de ajuda de US$ 2 trilhões aprovado pelo Congresso Americano.
Tal como é, a pandemia do Coronavírus impõe um fardo pesado para o setor de seguros. A crise significa dezenas de bilhões de dólares em sinistros adicionais. A paralisação econômica significa que as receitas caíram, o que, por sua vez, reduzirá os lucros.
Nossos balanços financeiros também serão afetados: o valor dos ativos será reduzido pelos preços de mercado. A redução no valor recuperável de ativos será decorrente de inadimplência de crédito e redução de avaliações de imóveis e patrimônio. A ação do Fed sobre as taxas de juros enfraquecerá nossa receita proveniente de investimentos. Estes serão tempos difíceis para todas as empresas. As seguradoras não precisam - e não estão solicitando - tratamento especial. No entanto, esses desafios podem se tornar reais se o setor de seguros for obrigado a cobrir interrupções de negócios que não estavam seguradas.
Por exemplo, estima-se que as pequenas empresas do país sofrerão perdas pela suspenção de suas operações que variam entre USD$ 250 bilhões e USD$ 430 bilhões por mês. As companhias de seguros têm um total de USD$ 800 bilhões em capital e superávit, cobrindo não apenas reivindicações de sinistros legítimas do Coronavírus, mas também reivindicações de sinistros diárias, além de furacões, incêndios florestais e similares. Esse capital existe para cobrir estas exposições.
Os formulários de apólices padrão do setor, aprovados pelos órgãos reguladores, estipulam claramente quais eventos de interrupção de negócios são cobertos. A esmagadora maioria da cobertura segurada requer danos físicos, como incêndio ou inundação, que impedem a empresa de operar. Os vírus não estão cobertos.
Em relação aos negócios, o Congresso deve conceder imunidade limitada contra litígios causados pela crise do Coronavírus. O Congresso já fez isso antes. Ninguém sabia do impacto que essa pandemia teria para as pessoas que estão na linha de frente das ações de resposta à crise, para as empresas, organizações e outras entidades que apoiam a sociedade e a economia. Por que culpar uma única indústria pelas consequências humanas e financeiras que ninguém esperava? Mais uma vez, nenhum tratamento especial para o seguro: isente-nos da imunidade.
O litígio pode ajudar a indústria de processos, mas não atende ao interesse nacional. Isso aumentaria ainda mais a incerteza, o que paralisaria as perspectivas de uma recuperação ordenada. Também repetiria os erros da política de "empobrecer o próximo" da Grande Depressão. Além disso, violaria a primeira regra de uma crise: não criar nenhum dano.
Evan Greenberg é CEO da Chubb.
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